Vamos girar térmicas? Por FRANK THOMAS BROWN
Este artigo faz parte de uma série que envolverá técnicas de vôo abrangendo basicamente: Térmicas, o que são, como centrar, onde encontrá-las e as transições. Centragem: A maior parte do tempo que passamos voando, fora em lift, é em térmicas, isto é, tentando ficar dentro delas. É muito raro quando damos 4 ou 5 voltas sem fazer alguma correção, estas correções são essenciais para sermos mais eficientes, subindo mais e mais rápido.
Primeiramente devemos saber que uma térmica é como uma mulher cheia de caprichos e manhas, principalmente nesta nossa região, que possui muitas montanhas e vento forte. As térmicas podem derivar mais rapidamente ou mais lentamente que o vento, ou simplesmente não derivar, podem ter mais de um núcleo, simplesmente desaparecer, ter o seu coração (ou núcleo) fora de seu centro geométrico, e até mudar sua direção de deriva. Vamos supor que acabamos de entrar numa térmica.
O vário começa a soar. Agora devemos aproveitar esta ascendente que foi tão difícil encontrar. Nesta primeira fase, que chamamos de fase de exploração, devemos tentar nos manter dentro dela, descobrindo onde está o núcleo, sua intensidade e sua deriva. Esta fase não tem seu fim definido e pode durar toda a nossa permanência na térmica. A primeira volta é de grande importância.
Nem sempre entramos frontalmente numa ascendente e esta entrada assimétrica provoca a elevação de um dos lados. Numa entrada simétrica a cabrada e o tensionamento dos batoques são uniformes, basta esperar o tempo necessário para poder dar uma volta completa dentro da térmica e girar. Quando não há vento, esse tempo é de aproximadamente 2 a 3 segundos, com vento contra demora um pouco mais. No caso de sentirmos apenas um lado elevando-se, devemos rodar obrigatoriamente para esse lado (no caso do parapente), técnica que difere da usada por planadores e asas, onde é aconselhável dar um giro de 270º no outro sentido, devido à grande inércia e retardamento de comando que possuem.
Não é o caso do parapente, pois estes giram num raio pequeno e não têm o problema da inércia. Inicia-se então uma segunda fase, a de centralização. No momento que estamos dentro da térmica, uma boa norma a se seguir, é a de quando a taxa de subida aumenta, se diminui a inclinação da curva, e quando diminui a taxa de subida, aumenta-se a inclinação da curva. O importante é a variação da taxa de subida, e não o seu valor numérico.
Caso o vario comece a indicar descendente, faça um giro de 180º e recomece a centragem, iniciando a curva mais rapidamente. Quando se está bem centrado, o vario permanece com uma taxa constante (± 1m/s de variação), mas não por muito tempo. É impensável uma térmica constante por mais de 4 ou 5 voltas, quando isto acontecer, olhe para cima, você pode estar levando uma bela chupada, então caia fora. Nas condições menos estáveis (mais comuns), a capacidade de se adaptar à variação das condições é que faz um bom piloto.
Num dia com muito vento, por exemplo, a parte de barlavento (por onde o vento entra), fica mais forte, pois é alimentada por ele, isto nos obrigara a girar na beira da descendente e fora do centro geométrico da térmica. Existem situações onde a térmica deriva mais ou menos que o vento, se derivar menos, fecha-se a curva quando empopado e abre-se quando contra o vento, chegando ao limite de não se fazer 360º, apenas um oito fechado. Quando a térmica deriva mais que o vento, basta abrir levemente o 360º quando empopado.
Um conselho para se centrar mais facilmente em dias de vento forte ou térmicas turbulentas, é de se fazer o primeiro giro contra o vento, obviamente o vento que estiver presente nessa altitude. Com vento forte, o tamanho das térmicas costuma ser menor, implicando num raio de giro menor (o que ocorre também em baixas altitudes). Isto acontece porque o vento dissipa e “quebra” as térmicas, às vezes formando vários centros. Nessa situação gira-se num só centro, ou, se for mais proveitoso, tente passar por todos, dependendo da situação.
Devo fazer uma breve consideração sobre o uso de ABS e cruzilhão. Com certeza se obterá um vôo mais estável com esse tipo de equipamento, mas se receberá somente uma parte dos sinais que a ascendente transmitirá para você através das linhas e do assento de sua selete. Existe uma corrente a nível mundial na qual se aconselha retirar totalmente esses sistemas, em função da sensibilidade em ascendentes. Nesta condição a pilotagem é feita basicamente com o corpo. Se você usa cruzilhão, não o retire em condições turbulentas, pois você não entenderá nada do que está acontecendo e lhe causará dor muscular nas costas e abdômen. Faça isto progressivamente, esteja preparado para fazer grandes correções com o corpo, pois se não fizer isto, a tendência de giro é bem violenta. Devemos lembrar que o comportamento do seu parapente muda drasticamente quando se muda de selette, suas respectivas regulagens (ABS e cruzilhão) ou mesmo quando mudamos a posição de pilotagem, sendo a mais segura a posição “sentado”. Por último vale lembrar: consulte o fabricante de seu parapente (ou alguém que tenha experiência) para saber como ele se comporta nessas situações. Algumas dicas: a) Faça o primeiro giro contra o vento; b) Tenha em mente o formato da térmica, marcando pontos de referência em volta; c) Use bons óculos, eles facilitam ver contornos de nuvens, previnem contra lesões causadas pôr ultravioleta e desidratação pelo vento; d) Cuidado com a deriva ao girar perto de montanhas, primeiro para não se chocar, e segundo para não cair no seu rotor. e) Se tiver que andar contra o vento, pode não valer a pena enroscar, pois sua derivada pode ser muito forte. f) Quando se sai de uma térmica, se pega uma grande região de descendente logo atrás dela (relativo ao vento), portanto é mais eficiente sair pelas laterais dela; g) Preste muita atenção em urubus e outros voadores para não perder tempo se estiverem subindo mais rápido do que você.
Bons vôos!
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