Vôo térmico com eficiência

Vôo térmico com eficiência. Por DENNIS PAGEN

Da mesma forma que o vôo em ascendente orográfica, o vôo em térmica é um processo com 3 etapas. Primeiro você tem que escolher uma altura apropriada para descolar. Em seguida, você deve procurar uma térmica adequada. Finalmente, você precisa fazer o melhor uso possível da ascendente que esta térmica proporciona.

Escolher a melhor altura para descolar: Também como no vôo em ascendente orográfica, acertar qual a melhor altura para descolar deve começar pela observação do movimento da vegetação à medida que a térmica sobe a encosta. Quando descolamos para o vôo em térmica, não se deve esperar que a térmica atinja a descolagem para descolar. Ao contrario, quando localizar uma térmica aparentemente adequada, descole ligeiramente antes que ela o alcance. Cronometrar os ciclos térmicos que passam pela descolagem ajudam-no a descolar na altura apropriada.

Existe um método ainda mais simples pra se descolar no em térmica. Infelizmente este método só pode ser utilizado em circunstâncias limitadas. Se um piloto estiver a voar à frente da descolagem em baixo, e se ele estiver a subir e também se você calcular que pode chegar até ele, chegando por cima, poderá garantir que vai apanhar aquela térmica. Naturalmente você deve calcular o quão o piloto está a subir para evitar chegar por baixo dele e possivelmente por baixo da térmica.

Localizar as térmicas adequadas: Utilize o seu conhecimento de térmicas, poderes mentais, enfim, toda evidencia disponível para localizar as térmicas que irão ajudar a atingir os seus objetivos de subir nas térmicas.

Dedução lógica: Através dos seus conhecimentos e experiência conclua onde encontrar as térmicas utilizáveis. Procure compreender o máximo sobre processo de formação das térmicas, como são estruturadas, o que causa o seu desprendimento, e como elas se transformam à medida que sobem e quando morrem. Analise o melhor possível uma situação encontrada e deduza onde existe maior probabilidade de encontrar sustentação. Pergunte-se: Onde estão os pontos de desprendimento? Onde existe ar quente a ser acumulado? (Lembre-se, pontos de desprendimento são tão importantes quanto fontes de aquecimento, especialmente em dias de vento forte). Quão úmido está o ar? Está a mover-se? Em que direção e a que velocidade? Suas respostas e alguma lógica levar-te-ão a encontrar melhor as térmicas. Quando estiver numa térmica, procure focalizar o ponto de desprendimento que a produziu. Se for capaz de localizar essa fonte, procure entender a sua posição relativa em relação à térmica, desta maneira será mais fácil localizar térmicas futuras partindo de pontos de desprendimento. Continue verificando o quanto a térmica está a ser arrastada à medida que sobe desta maneira também poderá verificar para as futuras térmicas, o quanto a térmica deriva com a altitude. Tenha sempre em mente que os fatores que controlam a deriva também podem variar com o tempo, e térmicas mais fortes derivam menos que as mais fracas.

Indicadores visuais: Ás vezes você irá ver sinais que confirmam ou centralizem as suas deduções lógicas.

Alguns sinais indicam térmicas a desprenderem-se. Por exemplo, se você vê poeira, bandeiras, fumaça de fontes diferentes, convergindo para um mesmo lugar ao invés de derivarem com o vento, será muito provável que o ar esteja a subir neste ponto. (Analogamente, se divergirem do ponto a probabilidade será que o ar em cima esteja a afundar.) Em áreas com vegetação, você poderá ver capim alto ou árvores a mover-se independentemente do vento, tal movimento deve indicar uma térmica a desprender-se. Infelizmente apenas percebemos esta movimentação a baixa altura.

Abobadas de poeira: Protuberâncias arredondadas no topo de camadas de inversão são provocadas por térmicas a desprender-se. Estas protuberâncias desaparecem rapidamente após o cessar da térmica, portanto eles são sinais virtuais de uma térmica existente. Você identificará estas protuberâncias ou mesmo colunas térmicas mais facilmente através de óculos de sol. Lentes verdes ou azuis dificultam esta visão!

Nuvens: As fontes mais férteis para indicação de térmicas são as nuvens. Elas são grandes “postes sinalizadores” no céu, assinalando sustentação muito confiável nos seus estágios de formação, um pouco menos quando amadurecem. Se estiver a alguma distância dum grupo de nuvens, escolha a melhor com a base mais bem definida. Se você não identificar o estágio em que uma térmica está, use o tempo que gasta a enrolar para determinar se ela está a formar-se ou a desmembrar-se. Se você estiver alto o suficiente escolha a nuvem com as bordas mais agudas e bem formadas dentre aquelas com a base muito grande em relação á abóbada. Em alturas mais baixas escolha a nuvem com a base mais escura e curvada para cima. Se quando se aproximar da nuvem constatar que sua base está convexa, a nuvem esta a desfazer-se e você deverá escolher outra. Nuvens de tempestade com a sua turbulência violenta, sucções poderosas e afundamentos fortíssimos devem sempre ser evitadas. Nuvens de alto nível indicam escassez de sustentação ou térmicas fracas. Procure as térmicas a barlavento, sempre, num buraco azul numa camada de estrato.

Sinais: Alguns sinais eliminam a necessidade de dedução lógica porque eles dão a evidência concreta de onde se encontra a sustentação.

Térmicas fortes algumas vezes carregam folhas, poeira, pedaços de papel e outros fragmentos e tornam-se visíveis.

Em áreas que contêm areia seca ou pó, formações fortes e turbulências assemelhando-se a pequenos tornados e comumente chamados “Dust Devils”, freqüentemente carregam partículas quando sobem, criando uma sustentação visível. “Dust Devils” são encontrados normalmente perto do chão, embora se saiba que podem atingir mais de 3000 metros acima do solo e sua ascendente prolonga-se consideravelmente. A pressão do ar reduz-se consideravelmente no centro de um “Dust Devil” e uma turbulência extremamente forte pode existir ao longo da parede deste centro, principalmente perto do chão. A ação dos “Dusts Devils” implica uma montagem de asa muito seguras no chão. Muitos pilotos aprenderam esta lição da maneira mais dura: assistindo a um “Dust Devil” a destruir a sua asa.

Pilotos de planadores acreditam que a sustentação mais forte num “Dust Devil” encontra-se fora do centro de poeira do “Dust Devil”. Outro indicador visual é o fumo, assinalando uma térmica fabricada pelo homem que pode ou não ser usada. Fumo também pode ser um indicador de térmicas se você vir uma fumaça repentinamente a virar para barlavento é sinal de que uma térmica provavelmente passou nesta direção.

Finalmente se avistar outros usuários de térmicas (planadores, asas deltas ou pássaros que não estejam a bater asas) a circular e a ganhar altura, não existe duvida onde está a térmica. Qualquer térmica usada por um planador é adequada para parapentes, com raras exceções. Um planador pode ganhar altura em térmicas marginais que são muito grandes e lentas para serem usadas por nós. Entretanto, planadores raramente usam estas térmicas: com a sua performance eles podem facilmente escolher melhores térmicas. Pássaros em contraste podem usar térmicas que são muito pequenas para nós. Com a sua capacidade para encontrar térmicas os pássaros são sempre ótimos guias.

Determinar o tamanho da térmica: Suponha que você localizou uma térmica provavelmente perfeita, mas não tem idéia do quão grande ou forte ela pode ser. Ou, imagine que você está a voar e um dos lados da sua asa repentinamente se eleva, continue a voar em frente e fique atento ao variómetro, conte até 3 vagarosamente, se o variómetro continuar a indicando ascendente, a térmica será suficiente para acomodá-lo. (Contar ate três é um método bom pra quem está iniciando no vôo, pilotos de competição usam a metade do tempo pra sentir uma térmica. Com a prática, os pilotos são capazes de reconhecer térmicas adequadas sem qualquer tipo de contagem).

Entrar na térmica: Assuma que você tem altura suficiente para enrolar, o próximo passo será entrar no ar ascendente oferecido pela térmica. Esteja preparado para descendente ao redor da térmica e alguma turbulência nas bordas, voe nestas áreas o mais rápido possível. Esteja preparado também para a ascendência repentina da asa quando entrar na térmica. O método mais comum é o de virar 90 graus para o lado que a asa está a forçar. Se possível, entre na térmica acima dos pássaros, asas ou planadores. Entrando por baixo você poderá encontrar-se numa descendente sob uma térmica tipo bolha. É uma boa idéia praticar enrolar para os dois lados, nem sempre temos a opção de escolher apenas um.

Dicas para entrar num Dust Devil: Devido à freqüente e severa turbulência no desprendimento, os “Dusts Devils“ devem ser evitados perto do solo. Se você resolver entrar num, certifique-se que tem altura suficiente para escapar da turbulência, se necessário, pelo menos 200 metros. Dirija-se para um “Dust Devil” como se fosse uma térmica. Determine o seu sentido de rotação e entre no sentido contrario. Prepare-se para as “pauladas”.

Voando na térmica: Depois de entrar na térmica ou “Dust Devil”, concentre-se ao máximo, para aproveitar toda a sustentação disponível.

Centre a ascendente. Logo que entrar na ascendente (e continuamente depois) procure posicionar-se de forma a que o centro fique no meio de seus círculos. Num “Dust Devil”, circule contra a sua rotação. Quando o seu variómetro deixar de registrar variações em cada circulo completo, é sinal de que você centrou perfeitamente (isto raramente acontece).

Existem inúmeros métodos para se centrar térmicas. Todos eles parecem excelentes na teoria, mas são difíceis de serem colocados em pratica. Meu método… é o de continuar circulando simplesmente, variando o centro dos meus círculos, inclinando mais ou menos a asa sempre que eu suspeito que existam melhores sustentações. Na pratica é mais ou menos assim: Incline a asa quando a ascendente decresce e nivele sempre que a ascendente cresce.

Se estiver voando em sustentação inclinada pelo vento, você irá precisar variar os círculos, aumentando quando tem vento de frente à medida que sobe. De outra forma, o vento e sua razão de afundamento combinar-se-ão, fazendo com que você saia atrás da térmica.

Se perder… Perder uma térmica é uma experiência comum. Se você não puder encontrar a térmica depois de perdê-la, pode ser o caso daquela já comentada térmica bolha que “subiu” por cima de você. Ou pode ter derivado com o vento, procure-a novamente.

Voe na velocidade correta e ângulo de inclinação correto: A melhor velocidade para se voar quando se enrola uma térmica, é a velocidade mínima da asa. O melhor ângulo de inclinação é o máximo horizontal. O centro da térmica é onde existe a sustentação mais forte, portanto parece lógico voar nos círculos mais fechados para se manter o máximo dentro do centro. Entretanto, círculos mais apertados interferem em inclinações mais verticais, que por sua vez, implicam afundamentos maiores. Se o centro for significativamente mais forte que o resto da térmica, justificam-se círculos mais apertados apesar da ineficiência; se a diferença nas razões de subida dentro da térmica for menos drástica, voe em círculos mais largos para obter um melhor afundamento. Existe um ângulo de inclinação para cada térmica.

Verifique o ganho acumulado de altura: Periodicamente verifique o seu altímetro para ver o ganho acumulado de altura. Em condições marginais, é inteiramente possível perder altura e não perceber, principalmente quando se está longe de uma referência visual.

Tenha sempre uma aterragem em mente: Sempre que estiver no ar, certifique-se de que existe uma aterragem dentro de uma razão de planeio 2/1.

Abandonando a térmica: Antes de deixar a térmica, tenha um plano para seu próximo seguinte. Nunca espere chegar à base da nuvem para decidir para onde ir. Use o tempo perdido a enrolar, para ir analisando quais as nuvens que se estão a formar ou a desmembrar-se. Como regra geral deixe a térmica quando a sua taxa de subida se equivaler á taxa de subida estimada para a próxima térmica.

Esteja sempre preparado para aumentar a velocidade quando for sair da térmica, pois deverá atravessar a região da descendente o mais rápido possível, prepare-se também para a turbulência associada geralmente á saída da térmica.

Estradas de nuvens (“Cloud streets”): Se você localizar uma estrada de nuvens e julgar conveniente voar na direção que ela segue, você só necessitará enrolar em sustentação, ocasionalmente se necessitar. Ao invés de enrolar, use a técnica do golfinho. Vôo direto com aplicação de velocidades corretas, conforme a teoria das velocidades de vôo.

Se precisar voar diretamente através de uma serie de estradas de nuvens, circule nas ascendentes proporcionadas pelas nuvens e voe rapidamente através da descendente entre as estradas de nuvens. Se for atravessar de uma estrada de nuvens para outra, é mais eficiente cruzar num ângulo reto.

 

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